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Polícia conclui que adolescente indígena foi estuprada e assassinada

15 de setembro de 2021

A Polícia Civil indiciou um homem pela morte da caingangue Daiane Griá Sales, 14 anos. O corpo dela foi encontrado dilacerado, em 4 de agosto, numa área rural junto à reserva indígena da Guarita. O aldeamento, entre Redentora e Tenente Portela, é o maior do Rio Grande do Sul e fica na região noroeste do Estado, próximo à Argentina.

A conclusão dos policiais, anunciada na manhã desta quarta-feira (15), é de que a adolescente foi carregada em um veículo até uma área de mata, estuprada e assassinada, próximo a uma mata. Não se sabe a motivação do crime, que é considerado um feminicídio.

Daiane estava desaparecida desde a noite de 31 de julho, após participar de várias festas no entorno da aldeia, os chamados “sons”, onde jovens colocam carros com música ao ar livre para dançar. O último local onde esteve foi na Vila São João, dentro da reserva indígena.

O corpo dela foi encontrado quatro dias depois, em uma estrada junto a uma lavoura em Posse Ferraz, a 10 quilômetros de distância, contígua à reserva caingangue. Estava com o abdômen dilacerado, o que chocou a comunidade. Até boatos de sacrifício humano envolvendo magia negrar correram na região, mas a perícia criminal concluiu que os ferimentos foram causados por ação de aves de rapina, após a morte.

Entidades de defesa da causa indígena também suspeitaram que Daiane tivesse sido morta por ser uma defensora dos caingangues – ela era ativa em grupos de jovens da aldeia. Mas a conclusão é de que se trata de assassinato por sua condição de mulher (feminicídio).

Dois homens foram presos por suspeita de envolvimento no homicídio. Ambos estão entre os últimos vistos em companhia de Daiane. Um deles de 21 anos, e o outro de 33. Os dois negaram envolvimento no assassinato. O mais jovem sempre residiu entre Redentora e Tenente Portela, próximo à área indígena. O outro já morou em grandes cidades gaúchas, mas retornou a Redentora há poucos anos.

Foram ouvidas 88 testemunhas e, após 40 dias de investigações, a Polícia Civil concluiu que, embora os dois tenham sido vistos com a vítima, só um deles cometeu o assassinato. Esse homem, o de 33 anos, teve a prisão temporária substituída por uma prisão preventiva, sem data para expirar. Ele também foi indiciado pelo assassinato. O outro detido, o de 21 anos, será libertado. Pesava contra ele o fato de ter emprestado um moletom, encontrado junto ao corpo de Daiane. Mas os testemunhos apontam que ele não saiu com a jovem da festa.

Os policiais não revelam o nome do indiciado pelos crimes, mas por meio de fontes judiciais, que se trata de Dieison Zandavalli, que já foi investigado em inquéritos por roubo e tráfico, e ten antecedentes por ameaças. Não se sabe a motivação do homicídio, mas os indícios contra ele foram suficientes para convencer os policiais de que é o autor.

Conforme testemunhas, Dieison teria oferecido carona para Daiane no final da festa, entre 2h e 3h da madrugada do dia 1º. O delegado Vilmar Schaefer, que investiga o caso, confirma que foram encontrados vestígios genéticos do investigado junto ao cadáver da vítima. Saliva do homem, por exemplo, estava presente na região peitoral da jovem. Além disso, há outros vestígios que apontam que ele teria tido relações sexuais com a caingangue. Não consensuais, fato demonstrado por lesões na mandíbula, provocada provavelmente por soco. Enquanto esteve preso, Dieison deu várias versões, “recheadas de contradições”, ressalta o delegado. A perícia mostrou que Daiane tinha ingerido muita bebida alcoólica.

Advogado da família de Daiane, Bira Teixeira está satisfeito com o resultado do inquérito. 

— O crime não foi colocado para baixo do tapete. A família tinha receio de que ficasse sem solução. A perícia foi fundamental para comprovar a autoria. Seguiremos acompanhando. E gostamos que o Ministério Público vai agir para conter outros crimes que têm sido praticados nessas festas — define Teixeira.

Fonte: Gaúcha ZH