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Candidato do PSTU, Julio Flores defende a vez do governo dos trabalhadores com participação de conselhos populares

24 de agosto de 2018

Concorrendo ao cargo de governador do Estado pelo PSTU, o professor Julio Flores propõe uma série de obras públicas e a diminuição da jornada de trabalho para criação de empregos. O candidato defende uma participação popular, de todos os setores menos favorecidos, para elegerem conselhos populares, que funcionariam como órgãos do governo. Confira abaixo a entrevista exclusiva da Rádio Progresso de Ijuí com Julio Flores.  O áudio na íntegra está disponível ao final do texto.

RPI: Qual a primeira medida do senhor caso seja eleito governador do Estado?
Julio Flores: Nossa primeira medida seria justamente convocar o povo gaúcho, os trabalhadores, os jovens, as mulheres, os negros, os LGBTs, a população pobre que vive na periferia pra gente fazer uma rebelião contra o sistema, contra os capitalistas, contra a exploração e opressão que o regime vem fazendo. E particularmente, uma mobilização para colocar na cadeia corruptos e corruptores, bem como, confiscar os seus bens, que é dinheiro público, que nunca deveria ter saído dos cofres da União, do Estados, dos municípios. E obviamente esse chamado à rebelião inclui basicamente a convocação de uma eleição de conselhos populares, que seriam o próprio governo. Constituiriam-se em órgãos de representantes eleitos em assembleias dos trabalhadores, do povo pobre, das categorias profissionais, operários, bancários, comerciários, sem terra, sem teto, aqueles que mais precisam, pra governar o Estado. Porque esse seria o governo dos trabalhadores, que a gente propõe, que esteja à serviço de fazer mudanças profundas na sociedade. O povo vem sendo massacrado a anos, explorado a séculos e as classes dominantes, os banqueiros, os industriais, os grandes comerciantes e latifundiários, por exemplo, tem os seus governos e só retiram direitos dos trabalhadores, só retiram conquistas fundamentais dos serviços públicos, como os educadores, como os funcionários da segurança pública, da saúde e, de fato, os trabalhadores nunca governaram. A gente acha que chegou a vez, em rebelião no país inteiro, os trabalhadores tomarem o poder e começar a dar passos importantes, no sentido de construir o socialismo. Socialismo que parta da suspensão do pagamento da dívida com a União, que consome R$ 4 bilhões por ano, que poderiam estar sendo investidos nas necessidades mais básicas da população; O fim das insenções fiscais para os grandes empresários, como GM, Gerdau e outras, são 15 bilhões que deixam de entrar nos cofres porque eles não pagam impostos; O fim da Lei Kandir e o combate a sonegação fiscal. Então nós teríamos algo como 20, 30 bilhões no sentido de poder, com esse dinheiro, investir em saúde, educação e segurança pública.

RPI: Em relação a venda das estatais, CEEE, Sulgás e CRM (Companhia Rio-Grandense de Mineração), o que fazer?
Julio Flores: Com relação a CRM e a Sulgás não vendê-las obviamente e colocar sob controle dos trabalhadores. Já a CEEE, nós queremos reestatizar, inclusive aquela parte que foi privatizada, porque ela foi separada em duas. E sob o controle dos trabalhadores, que significa que os conselhos populares e os próprios funcionários elegeriam comitês de gestão dessas empresas. E a reestatização da CRT, que foi vendida pelo governo Britto e colocá-la sob controle do povo. Bem como as fundações que foram extintas. Anular essa extinção e retomá-las porque a Fundação de Economia e Estatística, a Fundação Piratini, a Fepagro, a Cientec e a Zoobotânica são fundamentais para pesquisa, comunicação, investimentos em desenvolvimento econômico e social para o nosso Estado. Esse ajuste, na verdade é um ajuste privatista, que envolve ficar 3 anos sem pagar os juros e amortização da dívida, porque é disso que se trata, em troca de entregar esse patrimônio público para a iniciativa privada. Por outro lado, nós queremos reverter o processo de privatização do Banrisul, que está em curso, quando o governo toma a medida de colocar as ações na bolsa de valores, ou seja, um processo de privatização branca. Porque essas ações já estão passando para a iniciativa privada e somos totalmente contrário a isso.

RPI: O senhor é professor. O que fazer pra melhorar a educação no Rio Grande do Sul?
Julio Flores: Em primeiro lugar é acabar com esse crime e indignidade que faz o governo Sartori que é parcelar os salários dos educadores. É um absurdo que os professores e funcionários sejam obrigados a pegar empréstimo pra cobrir o seu próprio salário, porque se não os juros das suas contas corroem o poder aquisitivo. E ainda assim, pega-se o salário, antecipa-se no Banrisul e fica-se refém do banco pagando juros sobre aquilo que é devido pelo próprio Estado. É um escândalo essa situação; Eu acho que tem que ter uma rebelião dos educadores e servidores públicos como um todo, quanto a isso porque não é possível aceitar passivamente uma situação dessas. Por outro lado, pagar o piso. Que o Tarso Genro assinou, enquanto ministro, mas quando foi governador não cumpriu. E em terceiro lugar, a gente ter investimentos, de colocar pelo menos o Fundeb, que é essa verba pra cobrir esses investimentos, que é coisa que o governo não faz. E obviamente abrir um debate na sociedade, na comunidade contra essa reforma de ensino médio que está sendo promovida, essa base curricular nacional deixando como obrigatórias apenas português e matemática pra nós é um absurdo, porque significa formar mão de obra barata para as grandes empresas. Nós achamos que tem que ter uma formação integral dos alunos, dos filhos dos trabalhadores e não uma formação esquizofrênica que deixa as pessoas, sem efetivamente, ter uma compreensão do mundo, formar pra vida. Esse modelo desenvolvido pelo governo federal só sucateia e mutila a educação e caminha para a privatização, que eles preferem. E obviamente nesse debate, a comunidade escolar, com os pais, alunos, junto com professores e funcionários, estabelecer um projeto de formação de escola de turno integral, pra que os alunos sejam formados em todas as áreas do conhecimento. Não é possível que as crianças, desde a primeira infância sofrendo privações, aprendam direito na escola.

RPI: E soluções para resolver o problema do desemprego?
Julio Flores: É preciso que nós tenhamos um investimento sério nas questões sociais, acabar com o desemprego, que é um problema seríssimo, que leva à miséria e à fome. Então é preciso que a gente tenha um plano de obras públicas por exemplo. A gente calcula que existam pelo menos 20% de desempregados no Rio Grande do Sul, somando aqueles que ainda procuram emprego e aqueles que já desistiram, e nesse sentido seriam necessárias medidas profundas. Um plano de obras públicas que construísse hospitais, moradias populares, escolas, postos de saúde e fizesse obras de infraestrutura e saneamento básico, porque começa aí a saúde, pra que os trabalhadores pudessem ter condições dignas de existência. A gente sabe hoje que uma parcela, especialmente entre esses que eu citei, vivem em periferias em condições indignas. Moram mal, comem mal, vivem mal, estão fora da escola. Então esse plano de obras públicas não só criaria essas condições de existência, mas também dariam um salários para os desempregados. Porque não só construiriam sua própria casa, mas a escola pro seu filho, posto e saúde para sua família, e assim por diante. O outro é fazer uma reforma agrária profunda e radical no Estado, abolindo com o latifúndio, de tal maneira que pudesse colocar trabalhando na terra aqueles que hoje não tem terra pra plantar e tão vivendo sob casas de lona na beira das estradas, sem condições dignas de existência, que poderia absorver uma boa parte das pessoas que não tem terra pra plantar. E ao mesmo tempo, incentivar que se formem, não só pequenas propriedades, mas aqueles que optarem por formar fazendas coletivas de produção. A gente sabe que o trabalho coletivo é sempre mais produtivo. E outra é a redução na jornada de trabalho, de 44, nós propomos 36 horas pelo menos, pra começar. Na Alemanha, por exemplo, se conquistou com muita luta, 28 horas de jornada. Uma redução bem drástica, de tal maneira que com a redução da jornada de trabalho, os operários já empregados trabalhariam menos tempo, empregaria outros para cobrir e repartir-se-ia o trabalho entre todos os desempregados de uma determinada a região. Temos um cálculo que aproximadamente duas horas, talvez menos, já paguem o salário de um trabalhador. Significa que 6 horas, por exemplo, vão para o bolso do capitalista, seja pra reinvestir em máquinas, seja pra acumular capital, pra ir pra Europa, Ásia, Estados Unidos, sem nem pisar no chão da fábrica. Enquanto os trabalhadores ficam sofrendo a exploração da intensificação do ritmo de trabalho, fazendo hora extra, ampliação da jornada. Então, essas 3 medidas criariam as condições mínimas de existência pra uma boa parte da população que hoje está desempregada. Os filhos dos trabalhadores vivendo bem, comendo bem e tendo uma escolar pra ir, uma saúde de qualidade, públicas, pra poder viver dignamente na sociedade como a nossa.

RPI: Sobre segurança pública, qual a política do senhor a respeito disso?
Julio Flores: Nós não queremos mais prisões, não queremos mais armamento, não queremos mais tiroteio, mais violência nos bairros populares, porque é onde eles acontecem, em geral. Então, não é mais polícia a nossa solução. Claro que nós precisamos de concurso público para as forças de segurança. Nós precisamos também ter uma política efetiva de desarticulação do crime organizado, que não significa incentivar uma guerra, pra que os trabalhadores, o povo fiquem submetidos a sobressalto de ter que acordar com tiroteio na vizinhança, por conta dos enfrentamento entre polícia e traficantes, por exemplo, e criminosos que fazem parte dessas quadrilhas. Então, a desarticulação das quadrilhas, principalmente ligadas ao tráfico, porque elas têm ramificações, inclusive a própria polícia tem nos escalões superiores gente que colabora, que entra no crime organizado. A desarticulação começaria pela legalização das drogas, porque a principal origem talvez do crime organizado venha com o tráfico de drogas e de armas. Legalizando as drogas, teríamos a possibilidade de desarticular as quadrilhas, colocar tudo isso na mão do Estado e que os usuários que são dependentes, que tenha o direito ao uso, mediante uma receita médica, que ele possa receber do Estado. E obviamente uma campanha de educação pra fazer com que a maioria das pessoas que entram nessa ciranda tomem consciência da necessidade de que isso é um problema de saúde pública. Nós temos drogas legalizadas, como o álcool que vitima milhões de pessoas. É um problema muito sério. E não seria necessariamente no modelo uruguaio que liberou a maconha, mas algo mais amplo, que tivesse um critério de seleção desse processo, de tal maneira que os jovens, os usuários pudessem ter uma assistência de parte do Estado. Isso seria o principal. Outra questão que nós queremos fazer com as polícias por exemplo, uma delas, é unificá-las numa única polícia desarmada, ou seja, desmilitarizada, onde os próprios servidores pudessem eleger os seus delegados ou comandantes, aqueles seus colegas nos quais eles têm confiança pra poder fazer a segurança da população e não contra a população, como infelizmente tem sido hoje, onde negros, pobres, mulheres, LGBTs são assassinados nas incursões da polícia em bairros populares. E por outro que a população tenha controle sobre isso através dos conselhos populares, que são os órgãos de governo, que na comunidade controlariam a atividade da força de segurança. Que não fosse pra bater em trabalhador, como foi nas manifestações de 2013. Nós não queremos uma segurança pública a serviço dos grandes capitalistas, pra proteger a grande propriedade privada e bater em trabalhador que se manifesta e se mobiliza pra defender os seus direitos.

 

Fonte: Rádio Progresso de Ijuí/Foto: Facebook/reprodução