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MANCHETES

Como funcionava a fraude nas carnes da BRF

5 de março de 2018

Desencadeada nesta segunda-feira (5), a Operação Trapaça diz ter identificado irregularidades no controle de carnes processadas pela BRF, proprietária de marcas como Sadia e Perdigão. Segundo a Polícia Federal (PF), foram constatadas fraudes em laudos que ocultavam a presença de bactéria em aves e o acréscimo de aditivos e medicamentos proibido na ração dos animais.

Com a falsidade nos documentos, técnicos e funcionários conseguiriam burlar a fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Como funcionava o esquema:

Saúde animal
Comandada pela PF, a investigação encontrou delitos na produção avícola ligada à unidade em Carambei, no Paraná. A fraude consistia na ocultação da presença da bactéria salmonella em aves destinadas ao abate.

Os desvios ocorriam em laudos emitidos por laboratórios internos da BRF e empresas de análise credenciadas no Ministério da Agricultura. Em trocas de e-mails anexadas ao inquérito, funcionários pediam a adulteração do resultado positivo dos exames para "escapar" da fiscalização do ministério.

Pelas normas brasileiras, a presença da bactéria precisa ser obrigatoriamente notificada às autoridades porque representa risco à saúde dos animais. Para evitar a transmissão da doença, as aves precisam ser abatidas separadamente e descartadas.

Como é eliminada em altas temperaturas — ou seja, quando cozida ou assada —, essa bactéria não oferece risco à saúde pública. 

Ração das aves
Também foram identificados indícios de que a BRF adulterava a ração destinada às aves acrescentando medicamentos e aditivos promotores de crescimento acima dos limites permitidos. O desvio também apareceu em trocas de mensagens entre os investigados.

Por meio de laudos falsos emitidos pelos laboratórios credenciados e pelas empresas de análise interna, responsáveis pelo autocontrole, as substâncias irregulares eram omitidas dos agentes públicos de fiscalização.

O que diz a BRF
Em comunicado sobre a Operação Trapaça, a assessoria da BRF disse que "a empresa está mobilizada para prestar todos os esclarecimentos à sociedade" e que "segue normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos." 

No documento, a  dona das marcas Sadia e Perdigão ainda aponta que "entende que nenhuma das frentes de investigação da Polícia Federal diz respeito a algo que possa causar dano à saúde pública" e "reitera que permanece inteiramente à disposição das autoridades, mantendo total transparência na interlocução com seus clientes, consumidores, acionistas e o mercado em geral."

Sobre as denúncias, a BRF afirma na nota que "no lote de 46 mil pintos citado na acusação foram realizadas análises microbiológicas que não identificaram presença da bactéria S.Pullorum. Porém, ela foi identificada em matrizes e lotes de frango de corte no mesmo período em Carambeí" e que "os resultados dessas análises foram devidamente notificados ao Serviço Veterinário Estadual e ao Serviço de Inspeção Federal, como determina a legislação." 

A empresa explica também que "os e-mails revelados pela investigação em curso são de três anos atrás. O teor das mensagens está sendo investigado pela empresa."