Busca rápidaX

Criança com síndrome rara elimina convulsões após tratamento com maconha medicinal no RS

17 de abril de 2019

Portadora da síndrome de Dravet, forma rara de epilepsia, a vida de Caroline, de 9 anos, mudou após iniciar o tratamento com maconha medicinal.  Neste mês, a mãe da menina, através de uma decisão judicial da 4ª Vara Criminal de Canoas, obteve o direito de cultivar a planta, a partir da qual, ela fabrica em casa o óleo de cannabidiol, responsável por eliminar as convulsões, internações e o uso da cadeira de rodas.

“É outra vida”, diz Liane Pereira, 50 anos, aliviada com a melhora da filha. Caroline teve a primeira crise de convulsão com 25 dias de vida. A partir de então, a enfermidade impediu a menina de ter uma infância normal. “Ela tinha de 50 a 60 crises convulsivas diárias. Teve dias em que, das 24 horas, ela passava 23 convulsionando”, conta Liane.

O desespero pelo estado de saúde da filha levou Liane a procurar um tratamento à base de cannabidiol. O medicamento, no entanto, é importado a um preço alto. A família chegou a fazer rifas, vaquinhas na internet e até mesmo retirar empréstimos bancários para bancar o produto.

Foto: arquivo pessoal

Embora tenha melhorado o estado da menina, o óleo importado não cessou completamente as crises. Ainda assim valia o esforço, e a família conseguiu na Justiça que o SUS bancasse o medicamento. Mas o embate judicial era árduo, e por muitos meses Caroline ficou sem o remédio do qual tanto precisava.

“Conseguimos o repasse de aproximadamente seis meses de tratamento, durante três anos de processo. O Estado impunha muita burocracia, e no nosso entender, meios de procrastinar a decisão. Foi preciso bloquear as contas”, afirma a advogada Bianca da Silva Uequed, que representou a família no processo.

Em abril de 2017, Liane foi a São Paulo para aprender a cultivar e fabricar o óleo, ainda sem ter ideia do quanto impactaria positivamente na vida da filha.”Não foi fácil. Eu cresci achando que maconha era uma droga e não dava para chegar perto. Primeiro tivemos que desmistificar dentro da gente”, conta a mãe.

A advogada da família explica que foi necessário fazer o plantio, ainda que de forma ilegal, para entrar com o pedido. Por isso, Liane tomou precauções para provar que tinha como única finalidade a melhora da filha.

“Ela muniu-se de documentos antes, fez esses cursos, participou de muitos encontros de mães que precisavam de apoio do Estado, e já tinha essa outra ação judicial [que pedia o fornecimento do óleo importado]“, explica Bianca.

O óleo fabricado em casa era ainda melhor que o que era comprado a alto custo. “O medicamento importado deu melhora, mas não zerou as crises, e a partir do momento em que começamos a usar o nosso artesanal, as crises foram diminuindo até parar”, celebra Liane.

A decisão, 34ª do país nesse sentido, é inédita no Rio Grande do Sul, segundo a advogada da família. “Esperamos que abra portas para muitas crianças e adultos”, diz Bianca. O juiz destacou que a família comprovou no processo a necessidade do plantio de maconha para que a menina melhorasse.

Fonte: G1