A nova integrante da família Wommer Scherer foi recebida com churrasco, música e warga, um chá típico da Guiné-Bissau, em Ivoti, cidade a 55 quilômetros de Porto Alegre. A pequena Djariatu, de 5 anos, desembarcou em Porto Alegre no sábado (17) acompanhada da mãe, Deisi Wommer Scherer. Foi o primeiro fim de semana que eles se sentiram ‘completos’, como diz o pai Fernando Scherer
Para trazer a irmã biológica de Abel, de 8 anos, que já havia sido adotado pelo casal, uma campanha foi feita na internet para arrecadar recursos.
“A gente conheceu ela quando fomos buscar o Abel, há dois anos. Eu queria trazer a Dja, mas não tínhamos condições. O desejo não morreu, nem esse sonho e o sentimento. A gente tinha certeza que a Dja era nossa filha e ela tinha que estar conosco. Os pais biológicos da Dja são separados há muito tempo. Ela morava com uma tia, que não estava em condições de ficar com ela e procurava alguém.”
No mês passado, a família seguiu para o país africano em busca da nova integrante. Com o atraso na documentação de Dja e a chegada do período escolar, o marido e o filho tiveram que voltar para o Brasil. Deisi ficou até que os papéis fossem liberados.
“A despedida dela foi super tranquila. Ela conseguiu se despedir do pai biológico, que já é um senhor de quase 80 anos, mas ela quase não conviveu com ele. Ela estava muito empolgada para vir. Ela não saía de perto, ficava grudada em mim, sempre pertinho, com receio de não estar junto, de eu sair e ela não vir junto”.
Em Ivoti há dois dias, Dja conta com a ajuda de alguém que já passou pelo mesmo processo, o irmão mais velho. O próximo passo é a familiarização com a cultura brasileira e a língua. Dja entende, mas não fala português. Por enquanto, ela se comunica com os pais apenas em crioulo.
“O Abel já lê e escreve em português. Está muito bem na escola. A Dja está aprendendo e repete o que a gente fala. Ela faz umas misturinhas. Numa frase usa umas palavras em crioulo e outras em português. Agora ela vai passar por um processo de familiarização com o contexto social, cultural do Brasil. E não é só ela que se adapta. É a gente, a família toda também que muda para receber ela, assim como foi com o Abel.”
O casal conheceu as crianças quando fez trabalho voluntário no país africano. Para adotar Abel, na época com 5 anos de idade, eles juntaram as economias que tinham, e amigos contribuíram com uma quantia que completou o valor necessário. Além disso, Fernando saiu do emprego e sacou o Fundo de Garantia.
“Aconteceu alguma coisa que eu não sei bem explicar, que nos ligou. Ou já estávamos ligados de algum jeito. Foi a melhor viagem da vida, poder ter conhecido o Abel e ter tido esse encontro”, diz Deisi.
“Às vezes a gente pensa que as pessoas que liberam seus filhos para adoção não amam, mas eu não vejo isso na família do Abel. Eu vejo o quanto eles amam. E porque eles amam, querem uma história diferente do que a Guiné pode proporcionar”, a Deisi. Grande parte do país vive com muita pobreza, sem energia elétrica nem água tratada.
Com a família maior, o casal se acostuma com a rotina agitada. “Agora a casa está cheia”, contou Deisi enquanto preparava o café da manhã dos filhos.