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Grupo denuncia mulher que vendia passagens aéreas abaixo do valor de mercado no RS e não entregava bilhetes

20 de fevereiro de 2018

Mais de cem pessoas alegam terem sido enganadas por uma mulher que vendia passagens aéreas por valores abaixo de mercado no Rio Grande do Sul. Inicialmente, para ganhar a confiança das vítimas, Tânia Beatriz Victória Campos entregava os bilhetes, conforme o combinado. Porém, entre dezembro de 2017 e janeiro deste ano, ela desapareceu, sem dar explicações.

Um grupo que diz ter sido enganado por Tânia relatou que ela alegava que as passagens eram adquiridas com milhas ou eram provenientes de sobras de bilhetes negociados por agências de viagens. Um engenheiro, que preferiu não se identificar, pretendia viajar para Portugal com nove parentes. Contudo, perdeu R$ 19 mil no golpe, entre os valores repassados à golpista e reservas de hotéis.

"Foi bem triste chegar em casa e ver todo mundo de mala pronta, só esperando o localizador e o localizador não vem nunca", lembra. Os clientes contam que ficaram sabendo das ofertas por intermédio de amigos. Era uma propaganda boca-a-boca. No começo, as passagens eram entregues, o que seria uma tática para conquistá-los.

"No momento inicial ela entrega os pacotes, ela entrega o serviço", diz uma vítima. Para conseguir essas passagens, Tânia dava calotes em agências de viagens, de quem adquiria os bilhetes e não pagava a conta. Depois, essas passagens eram repassadas aos clientes, por valores abaixo do mercado, justamente para ganhar a confiança deles.

"Esse último bilhete foi de Porto Alegre a Roma, duas pessoas, no qual nós emitimos por R$ 13 mil. Depois, em contato com o passageiro, nós descobrimos que ele pagou R$ 4 mil", afirma a funcionária de uma agência de viagens de São Paulo.

O bilhete para a Roma foi comprado pelo empresário Mauro Lui, de Porto Alegre. Ele conta que precisou de uma passagem de última hora e, seguindo recomendação de amigos, fechou negócio com Tânia. Depois de ter embarcado, disse que por pouco não ficou sem a passagem de volta, porque a agência paulista percebeu que havia sido enganada.

"A companhia viu que eu não tinha culpa. Ela ia nos trancar lá, e aí, ela, olha, nós não te trancamos lá porque a gente viu que tu não tinha culpa nenhuma, era uma falcatrua", relata o empresário. Outra agência, de Pelotas, na Região Sul do Rio Grande do Sul, alega ter sido lesada em R$ 45 mil.

Nos áudios enviados via WhatsApp aos clientes, as ofertas eram tentadoras. Chegavam a um terço do valor de mercado. "Você sabe me dizer se alguém se interessa por passagem internacional? Hoje eu tô com valor de R$ 1,3 pra Europa e pros Estados Unidos", disse a golpista a uma cliente.

Depois, de uma só vez, ela deixou de honrar os compromissos e despareceu.

'Ela era muito atriz', diz uma das vítimas
Com pelo menos 10 antecedentes por estelionato, segundo registros da Polícia Civil, Tânia teria um perfil típico de estelionatários, de acordo com o relato das vítimas.

"O que está por trás disso é uma pessoa que tem uma lábia muito boa, muito convincente", afirma uma mulher enganada no golpe.

As pessoas enganadas relatam que, antes de desaparecer, Tânia demonstrava sofrimento e até choro ao tentar se explicar.

"Ela alegava o tempo inteiro que estava doente, que ela ia enfartar. Ela era muito atriz", descreve uma vítima.

Em um dos áudios, a golpista alegou estar hospitalizada por ter sofrido um suposto derrame.

"Eu tô no hospital, eu tive um derrame. Tô tentando ver se consigo alta pelo menos pra ver se consigo liberar umas viagens", disse, aos prantos.

Vítimas buscaram a polícia
Cinco vítimas da golpista procuraram a delegacia do consumidor, em Porto Alegre, para prestar queixa na sexta-feira (16). Elas fazem parte de um grupo de WhatsApp que reúne mais de uma centena de pessoas enganadas. No grupo, dividem suas experiências e trocam informações sobre o possível paradeiro da suspeita.

A reportagem descobriu que ela está morando com o marido e as filhas em um condomínio no bairro Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde a família aparenta ter uma rotina normal. Ela foi filmada circulando de carro pela região.

Procurado pela equipe do Fantástico, o marido de Tânia, Ivan Martins David, em cuja conta as vítimas depositavam o dinheiro do golpe, chegou a aparecer para conversar com o repórter na portaria do condomínio, mas retirou-se rapidamente ao perceber a presença de um cinegrafista.

Em nota, a defesa de Tânia e Ivan alegou que ambos devolveram os valores das passagens a parte das vítimas e que, por causa do suposto aumento no preço das passagens, por causa da crise financeira, houve "perda de controle" dos embarques.