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Lançada Campanha da Fraternidade na Diocese de Cruz Alta

14 de fevereiro de 2018
Investir na educação é uma das formas de superar a violência

A educação foi apontada como uma das principais formas de superar a violência, durante o lançamento oficial da Campanha da Fraternidade 2018, na Diocese de Cruz Alta. Autoridades eclesiais, civis e militares estiveram reunidas na Cúria Diocesana, na manhã de quarta-feira, 14, data que marca o início da quaresma, para juntos buscar formas de superar a violência. Uma das ações promovidas pela Diocese de Cruz Alta, anunciada pelo Bispo Diocesano, Dom Adelar Baruffi é a realização de um Seminário, que tem data prevista para o dia 24 de abril, na Casa de Cultura Justino Martins.
 

A Campanha da Fraternidade 2018 traz o tema Fraternidade e Superação da Violência e lema “Vós sois todos irmãos”. Entendendo que a violência apresenta-se nas mais variadas formas: física, psicológica, institucional, sexual, de gênero, doméstica, simbólica, entre outras, a intenção desta Campanha é envolver toda a sociedade para, juntos, buscar formas de superá-la. Superar as várias faces da violência é tarefa de todos. Exige o compromisso de cada cristão e cristã no enfrentamento das múltiplas formas de ofensa à dignidade humana que se naturalizam escandalosamente em nossa sociedade.
 

Para o Bispo Dom Adelar Baruffi, a Campanha da Fraternidade deste ano provoca a todos para uma construção de caminhos de superação da violência e mostra o amor como antídoto. “Ele é a base para a convivência humana fraterna e solidária. Só a lógica do amor é eficaz diante das ações violentas. ‘Vós sois todos irmãos’ (Mt 23,8), disse Jesus.
 

Segundo ele, os valores cristãos da fraternidade universal, da dignidade e sacralidade da vida humana, a misericórdia e o perdão, estão entre as principais contribuições que podemos oferecer, como cristãos, para a superação da violência. “Para edificar a paz é preciso eliminar as causas das discórdias entre as pessoas. As grandes desigualdades econômicas, a ambição do poder, as discriminações, a cultura do “descarte” que não valoriza a pessoa humana, são algumas das causas da crescente violência”, ressalta.
 

Dom Adelar nos convida para, neste tempo quaresmal, caminharmos com Jesus. Ele, que ao vir a este mundo foi vítima do ódio humano. “Aprendamos d’Ele a superar todo o mal pelo bem. Com a força do Ressuscitado, unamo-nos na construção da paz”, finaliza.

 

O que é a Campanha da Fraternidade
 

A Campanha da Fraternidade é uma campanha realizada anualmente pela Igreja Católica no Brasil, sempre no período da Quaresma. Seu objetivo é despertar a solidariedade dos seus fiéis e da sociedade em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução. A cada ano é escolhido um tema, que define a realidade concreta a ser transformada, e um lema, que explicita em que direção se busca a transformação. A campanha é coordenada pela Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

 

VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

 

Violência racial: Há um preconceito e uma violência sobre a população negra, o índio, os migrantes e, mais recentemente, também os imigrantes. Em 2016, ao comparar os anos de 2003 e 2014, constata-se que houve uma queda de 26,1% das pessoas brancas que foram vítimas de homicídio por arma de fogo. No entanto, o número de pessoas negras vitimadas por essa forma de homicídio cresceu 49,9%.

 

Violência contra os jovens: entre jovens de 15 a 24 anos, os homicídios são a principal causa de morte.

 

Violência contra mulheres e homens: Em 2013, houve 4.762 homicídios de mulheres – 13 homicídios diários, em média. Ao contrário do que acontece com os homicídios masculinos, destaca-se o domicílio da vítima como um local de agressão.

 

Violência doméstica: Quando ocorre violência contra a mulher há índices muito baixos de punição. Também existe um grande número de casos de violência contra idosos. Uma em cada seis pessoas (16%) com mais de 60 anos de idade já sofreram algum tipo de abusos. Sobre a violência contra crianças e adolescentes, sabe-se que o abuso sexual, os ataques verbais ou físicos e a negligência constituem as formas de violência mais comuns enfrentadas por crianças e adolescentes no ambiente doméstico. Contudo, a pobreza é uma das piores formas de violência que uma criança pode enfrentar.

 

Exploração sexual e tráfico humano: Uma das três atividades criminosas mais rentáveis, ao lado do tráfico de drogas e de armas.

 

Violência e narcotráfico: O narcotráfico movimenta mais de 400 bilhões de dólares por ano, segundo um dos setores mais lucrativos da economia mundial. A guerra às drogas criminaliza o pequeno varejista e o usuário e favorece os grandes empresários de drogas e o sistema financeiro internacional.

 

Ineficiência do aparato judicial: ao invés de praticar os ideais de recuperação e reintegração da pessoa apenada à sociedade, as prisões se transformam em um depósito de supostos ‘maus elementos’ a serem reprimidos e, se possível, esquecidos pela sociedade.

 

Polícia e violência: a letalidade das operações policiais (foram 3.320 vítimas no ano de 2015) se faz acompanhar de um grande número de policiais mortos. Dos 358 policiais assassinados nesse mesmo ano, 103 morreram em serviço, ao passo que outros 290 policiais foram mortos fora de suas atividades profissionais.

 

Religião e violência: No Brasil, tem sido comum que a intolerância e o fanatismo religioso se concretizem no desrespeito à liberdade de expressão, nas proibições de uso de vestimentas rituais em público, nas agressões físicas a pessoas e monumentos religiosos, além do uso indevido de símbolos de outra religião com o fim de desmerecer, condenar ou mesmo demonizar práticas religiosas.
 

Violência no trânsito: em 2012, quase 41 mil brasileiros perderam a vida nas estradas.

 

PESSOA, FAMÍLIA E A SUPERAÇÃO A VIOLÊNCIA

 

A superação da violência nasce da relação com o outro e o primeiro lugar onde o ser humano aprende a se relacionar é na família. Ninguém nasce violento. Contudo, a pessoa pode vir a ser violenta. O comportamento violento emerge como produto final, a partir da reciprocidade entre o comportamento da criança e o efeito desse comportamento sobre as atitudes dos adultos. Portanto, o comportamento violento pode ser aprendido na família e reaplicado socialmente em suas relações ao longo da vida. Todavia, uma sociedade que preconize a cultura da paz não passa só pela família, como pela efetivação dos direitos humanos.
 

É, pois, o coração do homem que precisa ser pacificado para que possa superar a ideia de que o outro é um risco a ser eliminado. A oração e a confiança em Deus são as únicas armas utilizadas pelos não violentos (n. 172-173). “Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem” (Mt 5,44), “brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16)

 

A SOCIEDADE E A SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

 

É necessário promover rodas de conversa, grupos de reflexão, encontros catequéticos que facilitem o conhecimento da violência psicológica, física e institucional, em nossas comunidades. Além disso, conhecer, se envolver e apoiar as iniciativas das Pastorais Sociais que trabalham nesta perspectiva. É urgente denunciar a predominância do modelo punitivo presente no sistema penal brasileiro, expressão de mera vingança, a fim de incorporar ações educativas, penas alternativas e fóruns de mediação de conflitos. O cristão precisa cultivar uma espiritualidade encarnada na cultura da não violência, pois a religião com espiritualidade leva à paz, já a religião sem a espiritualidade, leva ao fundamentalismo, ou seja, à guerra.

 

ALGUMAS PISTAS DE AÇÃO

 

Estatuto da criança e do Adolescente: Denunciando toda e qualquer forma de violência sexual contra crianças e adolescentes; Promover ações em parceria com os Conselhos Tutelares (CT), Conselhos Municipais da Criança e do Adolescente (CMDCA), Conselho de Alimentação Escolar (CAE) e Pastoral do Menor; Defender o ECA como uma política pública; formação sobre a Doutrina Social da Igreja.
 

A violência doméstica e a Lei Maria da Penha: Para que seja evitada a violência, as mulheres e homens devem adotar comportamentos de colaboração nos trabalhos domésticos.

 

Violência e juventude: Erradicar o analfabetismo; Conselhos Municipais e Estaduais de Juventude; Políticas públicas de inclusão social; atividades que promovam o Perdão e reconciliação;

 

Negros e negras e a superação da violência: Valorizar as datas comemorativas dos povos indígenas e quilombolas; Celebrações nas comunidade na perspectiva de uma liturgia encarnada e que retrate esses povos e seus clamores; Semana dos Povos Indígenas e a Semana da Consciência Negra; Agricultura familiar, consumindo produtos artesanais das comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas.

 

Superação da violência fruto do narcotráfico: Acompanhamento aos usuários de drogas; Erradicação das drogas; Incentivar programas de governo e entidades civis; Centro de Atendimento Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPS AD); Centro de Referência Especializada em Assistencia Social (CREAS); Pastoral da Sobriedade.
 

Defensoria pública: as defensorias públicas, cuja função é atender àqueles que não possuem condições financeiras de pagar honorários de um advogado, tornam-se instrumentos para diminuir as desigualdades sociais e, consequentemente, promover a justiça.

 

Violência política: Escolas de Fé e Políticas ou Escolas de Cidadania; Conselhos Paritários; Democracia participativa.

 

Violência religiosa: Em nome da fé ou de um pressuposto absoluto da verdade, a violência manifestada pela intolerância religiosa, além de provocar sofrimento e distanciamento da cultura da paz, impõe sequelas à alma das pessoas empobrecidas e ‘calejadas’ por uma prática religiosa que, ao invés da liberdade, oprime a misericórdia de Deus para com seus filhos e suas filhas.

 

Superar a violência no trânsito: Autoavaliação dos próprios motoristas (não dirigindo alcoolizados, não se distraindo no uso de aparelhos eletrônicos, respeitando a sinalização, entre outros).