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Miguel Rossetto, candidato do PT, pretende investir em ferrovia de Cruz Alta a Rio Grande e criar batalhão de proteção escolar

24 de agosto de 2018

Em um hotel na Avenida José Loureiro da Silva em Porto Alegre, local onde está instalada a equipe de campanha, o candidato do PT ao governo do Estado, Miguel Rossetto, recebeu a reportagem da Progresso. O ex-governador de Olívio Dutra e ex-ministro dos governos Lula e Dilma propõe a criação de um batalhão de proteção escolar, para dar segurança aos alunos e comunidade. Para solucionar os problemas de logística do Estado, Rossetto pretende recuperar a ideia de construção de uma ferrovia norte-sul, de Cruz Alta a Rio Grande, e reduzir os custos de transporte da produção. Confira abaixo a entrevista. O áudio na íntegra está ao final do texto.

RPI: Qual a primeira medida do senhor, caso seja eleito o governador do Rio Grande do Sul?
Miguel Rossetto: Primeira medida é assegurar o pagamento de salários em dia dos servidores públicos. Governador sério, honra com seus compromissos, com suas obrigações legais, que honra com quem trabalha. Nós precisamos respeitar quem trabalha. Não é possível continuar essa situação. Quase 34 meses, onde profissionais da educação, da segurança são tão desvalorizados. Vou assegurar o pagamento em dia destes profissionais. Recuperar um ambiente de valorização, porque tudo o que eu quero e minha responsabilidade, como governador do Rio Grande, é que a nossa juventude tenha uma grande escola pública, de excelência. Os pais e as mães sabem da importância de uma boa escola pública pra nossa juventude. Eu quero respeitar os policiais, que protegem a nossa vida de forma dedicada. Quero respeitar todos os profissionais que trabalham para o povo gaúcho. Portanto, essa será a minha primeira decisão: assegurar o pagamento do salário em dia daqueles que trabalham. Salário é um direito sagrado pra todos que trabalham.

RPI: Em relação as contas públicas, todo mundo sabe das dificuldades financeiras do governo. Quais as medidas que o senhoe pretende para colocar as contas em dia?
Miguel Rossetto: Governar significa fazer escolhas e cuidar muito bem do recurso público. Em relação aos nossos gastos, nós vamos trabalhar com muito rigor. Gastar bem, controlar cada centavo, recurso, porque são recursos do povo gaúcho. Portanto ter um controle muito preciso do nosso gasto do dinheiro. Segundo melhorar a nossa arrecadação. O Estado precisa melhorar a receita. Nós temos, já fiz referência, a pagar em dia, nós temos que assegurar recursos pra saúde pública. O atual governo deve quase 500 milhões de reais para os nossos municípios, hospitais, rede de saúde. Isso não é correto. Precisamos voltar a planejar e bem um sistema único de saúde com qualidade e próximo da nossa população. E pra isso nós temos que melhorar a nossa arrecadação. Vamos melhorar a arrecadação fazendo o Rio Grande do Sul voltar a crescer. Isso é a coisa mais importante que um governador sério faz. Quero liderar uma agenda econômica pro Rio Grande do Sul. O Rio Grande do Sul hoje tem 510 mil desempregados. Isso é inaceitável. São gaúchos e gaúchas que procuram trabalho e não encontram. Nos últimos três anos, a nossa economia caiu quase 8%. Isto é muito grave. Voltar a crescer, gerar trabalho e emprego, apoiar nossos agricultores e com isso melhorar a arrecadação do nosso Estado, isso é muito importante, é decisivo. Combater a sonegação. Nossa equipe já está trabalhando, há muito o que fazer aqui. Cobrar a dívida ativa do Rio Grande do Sul. Portanto, arrumar as finanças do Estado do Rio Grande do Sul é muito importante.

RPI: Tem uma questão polêmica, em relação ao governo do Estado, que é o acordo de adesão ao regime de recuperação fiscal, que o atual governo tenta assinar com a União e ligado a isso a privatização das estatais, CEEE, Sulgás e CRM (Companhia Rio-Grandense de Mineração). Se o senhor vencer as eleições, o que fazer com esse acordo?
Rossetto: Esta proposta do Temer e do Sartori é uma proposta ruim. Ela não recupera as finanças, é uma falência do Estado do Rio Grande do Sul. Na medida que ela proíbe, por exemplo, a contratação de novos policiais, novos professores. Ela entrega o patrimônio público do Rio Grande do Sul. Isto é inaceitável. Isto é um erro. A região de Ijuí precisa de novos policiais, precisa de novos professores e professoras pra ter uma boa escola pública. Nós não podemos ficar três, cinco, seis anos sem renovação do efetivo das nossa polícias. Portanto, nós vamos trabalhar em outra direção. O atual governo não paga esta dívida desde julho de 2016, e há uma decisão judicial, que permite o não pagamento. Eu vou renegociar esta dívida com o próximo presidente eleito, em condições justas e positivas para o Estado do Rio Grande do Sul.

RPI: E sobre o futuro das estatais?
Rossetto: Não há nenhum sentido em privatizar essas empresas. Esse é o modelo de privatização que fracassou. O Britto privatizou a CRT, dois terços da CEEE e ainda vendeu o Banrisul. Nós ficamos com menos patrimônio e mais endividados. Eu quero que essas empresas bem governadas ajudem o Rio Grande do Sul. Sulgás é importante. CRM é importante pra produção de energia do Rio Grande do Sul e a CEEE também. Eu quero um Banrisul forte, financiando a economia de Ijuí e da região, quero um Banrisul financiando o trabalho e emprego em todo o Estado do Rio Grande do Sul com o BRDE. Não quero privatizar o Banrisul. Quero uma Corsan atuante em todo o Estado, garantindo água e saneamento com tarifas razoáveis. Essas empresas têm muito a colaborar com o Rio Grande do Sul. Bem governadas, bem administradas têm muito a ajudar.

RPI: O que fazer para melhorar a educação do nosso Estado?
Rossetto: Nós temos uma política de curto prazo emergencial que é o pagamento de salários dos professores e professoras, não existe uma boa educação sem valorizar os educadores. Segundo nós temos que fazer uma manutenção emergencial. Infelizmente nós temos escolas estaduais sem energia elétrica, sem telhado, sem banheiro, que é insustentável. Nós vamos fazer uma política emergencial de manutenção das nossas escolas. E terceiro, estamos já trabalhando nas horas mais críticas, proteção aos nossos alunos. É impressionante que a falta de segurança tem feito com que jovens não vão a escola, porque têm medo de ficar na parada de ônibus. Tem medo de sair às 10 horas da noite de uma escola. Eu não posso aceitar que o jovem do Estado não vá pra uma escola por conta do medo. Então nós já estamos trabalhando na organização de um batalhão de proteção escolar, que vai garantir nas situações mais críticas proteção aos nossos alunos e a comunidade escolar. No médio prazo, um grande plano de recuperação das nossas escolas. Um fundo de qualificação de investimento nas escolas estaduais. Nós estamos trabalhando pra que num prazo de 10 anos, com financiamentos internacionais extraordinários, nós possamos ter uma estrutura escolar de altíssima qualidade. Ou seja, são medidas de curtíssimo prazo já e no médio prazo, qualificando a nossa rede escolar, qualificando os professores, estimulando a qualificação permanente dos nossos professores. Investindo nas nossas escolas.

RPI: E em relação a segurança pública, quais os planos pra reduzir a criminalidade e a ação das facções criminosas, que inclusive continuam comandando de dentro das cadeias gaúchas?
Rossetto: Não se faz mais segurança com menos policiais. O atual governo, de uma forma irresponsável, reduziu em quase 5 mil policiais, em relação a dezembro de 2014. Nós temos os menores efetivos da Brigada Militar, da Polícia Civil, do IGP e da Susepe. Isto é insuportável. Esta atitude é responsável por este aumento brutal da criminalidade e da violência no Rio Grande do Sul, em todas as regiões, em todos os municípios. Nós vamos recuperar os efetivos das nossas polícias. Estamos trabalhando um plano de segurança estadual, quero uma Brigada Militar fazendo um policiamento comunitário preventivo nas vilas, nos bairros, nas nossas cidades, apoiando a nossa população. Uma Polícia Civil ampliando a sua capacidade de investigação, serviços de inteligência integrados, combatendo o tráfico de drogas, o roubo de carro, de celular. Uma polícia agindo preventivamente. Isso é muito importante. Nós vamos trabalhar sim junto as nossas prefeituras. Segurança pública também se faz com segurança social, boa escola pública, emprego, trabalho, cultura, acolhimento das pessoas mais vulneráveis, disputar essa parcela da nossa população com o crime, apoiar a nossa juventude. Isso é muito importante. Nós vamos fazer isso. E ao mesmo tempo revisar a nossa política prisional. No meu governo, as facções não irão comandar os presídios e transformá-los em escola do crime, como existe hoje. Portanto, essas serão as políticas que irão orientar o nosso governo, com muita determinação. O povo gaúcho hoje vive com medo. Nós vamos recuperar um ambiente, onde possamos todos vivermos em paz e tranquilidade.

RPI: Em maio, a paralisação dos caminhoneiros afetou a população do Rio Grande do Sul. O que fazer pra melhorar a infraestrutura pra que não haja desabastecimento em razão de uma greve como essa no Estado, e principalmente, em relação ao agronegócio, que é importante para o nosso Estado e que precisa dessa malha rodoviária pra conseguir escoar essa produção?
Rossetto: São dois temas. Um tema é uma política de preço de combustíveis que é insustentável. Governo Temer, do MDB, essa turma fez uma política de preço de combustíveis contra a população e a economia brasileira. O preço do botijão de gás é proibitivo. Temos que pensar uma política de combustíveis que apoie a nossa economia e que permita que a população tenha acesso aos bens energéticos. Por isso quero mudar o Brasil, quero que Lula volte a presidir o Brasil. Outra coisa é a qualidade da infraestrutura das nossas estradas e da nossa logística. Nós temos que avançar muito nisso. Nós temos que investir nas nossas estradas. A EGR é um bom instrumento. Eu diria que é um veículo mal pilotado. Tem feito um trabalho importante, um pedagiamento barato, comunitário. Eu vou recuperar os conselhos regionais, os pedágios sob controle das comunidades, da nossa população. Nós vamos recuperar investimentos federais, através de diálogo com o novo governo federal. Nós temos duplicações importantes a serem feitas nas nossas BRs, 290, 386, 116, que são rodovias muito importantes para o Rio Grande do Sul. Há um tema decisivo, que é recuperar os investimentos pra uma ferrovia norte-sul no Rio Grande do Sul. O Estado tem uma economia exportadora, portanto nós precisamos de uma infraestrutura e logística competitivas, de baixo custo. Uma ferrovia é muito importante. Nós vamos recuperar esta ideia de uma ferrovia Cruz Alta-Rio Grande, estimulando uma redução de custo pra toda a nossa produção da região norte. E vamos voltar a trabalhar com as nossas hidrovias. O Rio Grande do Sul precisa diversificar a sua rede de logística pra garantir mais segurança pra quem usa essa rede, mais conforto, e maior redução de custo para a economia gaúcha.

RPI: Em relação a saúde, quais os seus planos?
Rossetto: A população tem que ter uma saúde pública que ela merece, próxima, com qualidade. Nós temos que interromper, chega dessas filas longas de exames que não conseguem ser realizados, esse é um grande problema. O governo do Estado, comigo, vai recuperar essa responsabilidade, através de um planejamento de repassar aquilo que são nossas obrigações para os municípios e a rede do sistema único de saúde. Temos a obrigação de repassar 12% do orçamento que não é feito hoje. O atual governo atrasa permanentemente, algo em torno de 400 a 500 milhões de reais para o sistema único do Rio Grande do Sul. Nós vamos regularizar esse repasse. E há dois temas centrais que nós vamos tomar como iniciativa junto aos prefeitos, e a nossa rede hospitalar de atendimento de saúde. A primeira é enfrentar o grande gargalo que nós temos hoje. Vamos propor a criação de clínicas regionais de exames especializados, de atendimento especializado. Hoje nós temos um problema sério com essas especialidades, as pessoas não conseguem fazer um raio-x, tem dificuldade em tomografia. Não consegue uma consulta especializada, um ortopedista, um cardiologista. Portanto, nós vamos organizar regionalmente, junto com os nossos municípios, clínicas, centros dessas especialidades. Iniciando com 20 especialidades e com isso melhorando muito esse tipo de atendimento a nossa população. E o segundo movimento que nós pretendemos fazer, dialogando com os nossos municípios, é melhorar a rede primária de atendimento, que tem uma capacidade de resolver até 80% das necessidades da nossa população. Portanto, melhorar e qualificar essa rede de atendimento primário é muito importante para o nosso Estado. Nós temos segurança numa agenda que pode melhorar muito o atendimento das necessidades da nossa população. Isso é muito importante.

RPI: Os deputados reclamam bastante da falta de diálogo do executivo. Se o senhor for governador, qual a estratégia para ter uma boa relação com o legislativo?
Rossetto: Eu terei uma relação de diálogo permanente com o poder legislativo, com o poder judiciário, com todas as estruturas do Estado. Um diálogo aberto, transparente, orientado para que nós possamos tirar o Rio Grande dessa crise e colocar em uma rota de desenvolvimento. Essa é minha obrigação como governador do Estado. Fazer o Rio Grande crescer, ter trabalho e emprego, melhorar todos os serviços para nossa população. E além disso, quero ter uma relação de diálogo permanente com o povo gaúcho, com nossas prefeituras, com nossas regiões, com os coredes, com as universidades. Nós vamos recuperar no governo do Estado a participação popular, o orçamento participativo. Nós vamos ter um diálogo permanente com as nossas regiões, com os nossos prefeitos. O Estado é muito grande. São mais de 11 milhões de habitantes, temos 497 municípios. Portanto é só a partir de um diálogo permanente, de um ambiente de cooperação, que nós vamos tirar o Rio Grande da crise e governar bem. Eu não vou governar a partir de Porto Alegre, vou governar dialogando nas regiões, nos municípios, escutando e dialogando com a nossa população. E assim, quando a gente escuta e dialoga acertamos mais. E eu quero acertar muito, governando o Estado do Rio Grande do Sul.

RPI: A respeito das fundações, o senhor vai manter a extinção feita pelo atual governo, ou vai recuperar alguma delas?
Rossetto: Extinguir instituições de pesquisa, que produzem conhecimento e tecnologia é uma estupidez estratégica. Todos os países e estados estão investindo em tecnologia, em conhecimento, em inovação. Isso é uma condição de futuro pro país. Investir em educação, em tecnologia, em conhecimento, em cultura é uma condição estratégica para termos futuro. Nós vamos recuperar essas instituições de pesquisa, vamos atualizar essas instituições. É muito importante que elas voltem a trabalhar. Hoje nós estamos trabalhando com uma proposta de um sistema de educação e pesquisa no Rio Grande do Sul a partir da Uergs. Quero fortalecer a Uergs, nossa universidade estadual e junto com ela estabelecer uma relação próxima com essas instituições de pesquisa. Portanto, vou recuperar essas fundações e nós vamos qualificar essa estrutura de pesquisa, constituindo um grande sistema estadual de ensino e pesquisa, que será estratégico para o futuro do Rio Grande do Sul.

 

Fonte: Rádio Progresso de Ijuí/Foto: Ubirajara Machado