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Produtores e deputados defendem proibição do herbicida 2,4-D no Estado

9 de maio de 2019

A Assembleia Legislativa promoveu nesta quarta-feira (09), em Porto Alegre, audiência pública para debater a utilização do herbicida 2,4-D no Estado. A proposta foi dos deputados Edegar Pretto (PT) e Luiz Marenco (PDT) e realizada por duas comissões em conjunto: a comissão de saúde e meio ambiente e a comissão de agricultura, pecuária e cooperativismo. Representantes do governo do Estado, da Farsul, do Ministério Público e de associações de produtores do Rio Grande do Sul estiveram presentes para discutir os danos, prejuízos e medidas relacionadas ao herbicida, utilizado para controlar ervas daninhas em culturas como a Soja.

O deputado federal Afonso Hamm (PP) deu uma pausa no trabalho em Brasília e também participou da audiência pública. O parlamentar defende que o 2,4-D seja suspenso por um ano, para que as medidas de regulamentação e treinamento do uso do herbicida sejam implementadas e os prejuízos a outras culturas em razão da deriva (dispersão do produto pelo vento) sejam reduzidos. O presidente em exercício da Farsul, Elmar Konrad, no entanto, argumenta que o uso do herbicida é fundamental para colher a soja. Hamm, que também produz diversas culturas, entre elas a soja, testemunhou que teve prejuízos em suas lavouras ocasionadas pelo 2,4-D e por isso decidiu deixar de usá-lo no cultivo da soja, substituindo por outros defensivos agrícolas. Segundo o deputado, o resultado foi positivo e outros produtores não fazem o mesmo por conforto.

O governo do Estado foi representado na audiência pública pelo secretário adjunto do Meio Ambiente e Infraestrutura, Pedro Pereira, que limitou-se a ler os oito itens que foram sugeridos pelo grupo de trabalho, coordenado pela secretaria da agricultura, para a regulamentação do uso do herbicida 2,4-D. As propostas contemplam treinamento específico para a aplicação do 2,4-D, a criação de um sistema de alerta de deriva, um cadastro dos aplicadores do herbicida, a regulamentação da aplicação terrestre, o cadastro e localização dos cultivos comerciais mais sensíveis, a revisão das zonas sensíveis, a criação de um fundo de indenização e a proposição de um técnico executor a campo.

Todos os itens apresentados foram fortemente rebatidos pelo representante da Associação de Produtores de Vinhos da Região da Campanha, Valter José Pötter, diretor-proprietário da vinícola Guatambu. Segundo ele, os prejuízos em 2018 na uva e no vinho foram de R$ 100 milhões, no entanto esta é uma pequena amostragem. Pötter calcula que caso seja somado prejuízos anteriores e de todas as culturas afetadas, as perdas são bilionárias. De acordo com ele, o 2,4-D é incontrolável e imprevisível. “Todas as alternativas que foram apresentadas eu tentei fazer em mais de 4 anos. Treinar, conscientizar, sensibilizar… E não resolveu, Dois ou três podem observar corretamente a aplicação e um ou dois não, está feito o estrago”, justifica. O produtor ainda alerta que a bula do herbicida 2,4-D orienta a suspender o uso caso os ventos sejam superiores a 10km/h, em razão da deriva, o que não é respeitados por outros produtores. “Por isso tem que suspender. Não tem outra maneira de resolver este problema”, concluiu Valter José Pötter.

O presidente da Agapomi (Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã), José Sozo, também defende a proibição do herbicida 2,4 -D, alertando para o fim da diversificação das culturas no Estado. “Vocês querem uma monocultura? A Venezuela é assim”, provocou. Segundo Sozo, os prejuízos podem ser muito mais que econômicos, pois no caso da maçã, a colheita traz muitos empregos. Se os prejuízos continuarem por causa do 2,4-D muitos ficariam desempregados. O presidente da Agapomi relata que em ataques frontais, o herbicida compromete até 85% da produção. Sobre as propostas do governo estadual, que incluem a regulamentação da aplicação correta, Sozo é direto: “vai fiscalizar com que recursos?”, questionou.

Proponente da audiência, Edegar Pretto protocolou um projeto que proíbe o uso e comercialização do herbicida 2,4-D no Rio Grande do Sul. A pauta tramita na Comissão de Constituição e Justiça e já foi proposta por pelo deputado no mandato anterior. O petista acredita que desta vez a matéria vai avançar na casa. Enquanto isso, em conjunto com outros parlamentares, ele pretende pedir a suspensão do uso do produto junto ao Ministério Público.

Fonte: Rádio Progresso de Ijuí/Foto: Guerreiro/Agência ALRS