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RPI entrevista: por que a carne está tão cara?

24 de setembro de 2021

“O preço da carne assusta” ou “o churrasco de fim de semana nunca esteve tão caro”. Essas duas frases estão sendo comuns de serem ouvidas no cotidiano do brasileiro. Na busca de respostas para os porquês de pagarmos tão caro pelo alimento preferido dos gaúchos, a Rádio Progresso convidou o economista Ricardo Franzoi para fazer uma análise dos preços. Franzoi é supervisor do escritório do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos do Rio Grande do Sul.

RPI: O que influencia no preço da carne? E por que o tradicional churrasco está tão caro?

Economista Franzoi: Na verdade todos os produtos essenciais estão caros. Em primeiro lugar pela desvalorização do real. Este é o fator principal. Todas as mercadorias são dolarizadas. O dólar subiu do ano passado pra cá em cerca de 40%. Em 2020 se pagava cerca de R$ 4 cada dólar e agora está a R$ 5,30 e R$ 5,40.

O segundo, e principal fator também, é que boa parte destes preços, por conta dos países que tiveram uma saída mais rápida da crise e não se atrapalharam tanto em termos de vacinação e economia, aumentaram o consumo desses produtos. O consumo mundial de carne bovina, principalmente puxado pela China e pelos Estados Unidos, vai bater o recorde em 2021. Ou seja: os países desenvolvidos voltaram a sua vida quase normal e isso fez subir esses preços.

RPI: Qual o cenário da produção de carne bovina no Rio Grande do Sul?

Economista Franzoi: Há o avanço da soja e um dos problemas é que os agricultores começam a questionar: vale mais a pena plantar soja ou criar boi? Então vemos que, se por um lado é muito bom pra quem planta soja, por outro ela começa ocupar espaços de outras culturas e causa a diminuição da produção de carne bovina no Brasil.

RPI: Grande parte da carne produzida em solo brasileiro é exportada?

Economista Franzoi: Nós temos a característica de ter um gado europeu, com um preço mais alto. Os frigoríficos têm dificuldades de insumos porque o boi foi vendido para o exterior. Nós, do Rio Grande do Sul, pagamos um preço por ter um produto de maior qualidade.

RPI: Qual a sua análise comparando a média salarial e o preço da carne nos últimos anos? 

Economista Franzoi: O poder de compra das pessoas está caindo. Olhando o preço da carne nos últimos 20 anos pelo preço médio da carne analisando o valor médio anual e comparando com o salário mínimo, percebemos que o salário do brasileiro está com o menor poder de compra de todo esse período. O preço daria para comprar a menor quantidade de carne em todo o período analisado. Isso que o salário mínimo teve ganhos substanciais durante este período. A renda das pessoas está em queda e tudo pesa no consumo das pessoas.

Aquelas pessoas com renda de até R$ 2 mil tem uma dificuldade no consumo. Quando sobe a energia elétrica, por exemplo, o poder de compra diminui.

RPI: Os custos para o produtor estão altos?

Economista Franzoi: Sim. Os insumos eles são dolarizados. O custo de produção é alto. Temos um grande problema que é a falta de renda das pessoas. Temos que pensar que o salário é consumo.

RPI: Quais são as projeções futuras?

Economista Franzoi: Acredito que não vai ter diminuição no preço. Como 2021 vai bater um recorde no consumo, a tendência é de ter uma maior pressão por subida de preço em dólares.

Confira a entrevista concedida ao programa Rádio Ligado: 

Fonte: Rádio Progresso